Recentemente tive a oportunidade de escrever o editorial de Mayara & Annabelle – Conflitos Internos – Parte 2. No trabalho editorial, esse é um dos trabalhos que mais me anima, um momento de diálogo entre editor e leitores em que podemos preparar o clima para a história que será lida.
O editorial é um paratexto que vem e funciona melhor em publicações periódicas, em livros com obras mais longas, o editorial acaba substituído por algum paratexto como uma introdução ou um prefácio. Nem toda obra pede um paratexto e uma das minhas regras editoriais particulares é: um paratexto tem que sempre acrescentar, nunca sobrar, nem conduzir demais a leitura.
Por isso, muitas vezes enveredamos para o caminho do informativo, como muitos dos textos que trazemos na série HQ Para Todos, ou no que escrevemos por exemplo em Goya – Saturnália. Mas de vez em quando temos um espaço para um papo mais informal, como é o caso em uma série mais longa como Mayara & Annabelle, e posso soltar um editorial.
A principal inspiração lógico que é Stan Lee e sua “Stan’s Soapbox”, editorial/coluna que ele mantinha nas revistas da Marvel quando foi o editor-chefe da Casa das Ideias. Stan Lee talvez tenha sido um editor ainda mais competente do que autor. Nesse ofício, mantinha em rédea curta todas as narrativas da editora enquanto mantinha uma linha de diálogo clara e bem-humorada com os leitores.
Trecho de uma coluna de Stan Lee para as publicações da Marvel
No Brasil, os editores de quadrinhos aqui nas décadas de 1970, 80 e 90 mantiveram o espírito no Brasil e ajudaram na minha formação de editor, mas o maior impacto viria dos editoriais do Cassius Medauar no princípio das publicações de mangá aqui por essa mesma Conrad Editora no início dos anos 2000.
Cassius pontuava seus editoriais se colocando como envolvido no universo da história, se fosse Dragon Ball ele assinava como “Editor do Dragão”. Cavaleiros do Zodíaco era assinado pelo “Editor do Zodíaco”, e assim sucessivamente.
Tive a oportunidade de sucedê-lo nesta mesma Conrad e a cada editorial que escrevo, me coloco também como um editor que faz parte da história, de forma como um aceno para esses editoriais do Cassius que tanto me inspiraram.
