“Pra que serve a literatura?” Com certeza todo mundo que frequentou a escola já ouviu essa pergunta, muitas vezes proferida depois de alguma aula complexa sobre poesia do século XVI. Ou numa mesa de bar, como ouvi uma vez no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte. A pessoa que falou isso o fazia em uma citação do que ouvira e rebatia a questão com uma resposta óbvia “A literatura dá repertório, faz com se conheça o mundo, antes de vivê-lo. Você não precisa ir para guerra para saber como o ser humano se comporta em uma guerra, pode saber pela literatura.”

Essa resposta ficou comigo, e sempre que leio algo relacionado a guerra, qualquer que seja, volta. E voltou bastante ultimamente no trabalho editorial da Conrad. Acabamos de lançar o mangá Okinawa, de Susumu Higa, que retrata a ilha japonesa durante e logo depois da Segunda Guerra Mundial. Um relato forte de pequenas histórias da população okinawana em seus esforços para sobreviver a ocupação e os horrores e sofrimentos da guerra.

Logo pulei para a tradução de Iugoslávia 1992, que lançaremos dentro da coleção HQ Para Todos. O trabalho do roteirista Rodolfo Santullo e do desenhista Gonzalo Martínez conta duas histórias de jornalistas cobrindo batalhas na guerra que desmantelou o país do Leste Europeu. Nele conhecemos histórias de pessoas comuns cuja a vida foi tomada pela guerra que veio bater a sua porta.

Em seguida, o processo editorial foi tomado por Replay – Memórias de uma família, livro em quadrinhos de Jordan Mechner, criador do Prince of Persia, no qual ele conta como sua família sobreviveu a duas guerras mundiais, em um relato pra lá de emocionante.

Lendo os três na sequência, foi impossível para mim não puxar uma linha invisível os unindo. Porque em todos vemos como as pessoas são em situações extremas, como todos têm luz e sombras, e o possível para se sobreviver será feito. Esses três livros são repletos de repertório pra quem estiver disposto a lê-los.

É para isso que serve a literatura e os quadrinhos. Além de entretenimento, que é uma função importante, também nos mostra o mundo e a natureza humano. Nos ensina quem somos e quem poderíamos ser.