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Conhecendo mais da Brendda Maria e seu Universo

28 de junho de 2021

por: Carolina Falvo

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Brendda Maria é autora de Cais do Porto e Manual de Sobrevivência à Vida Adulta

Conheça um pouco sobre o mundo de Brendda Maria, autora de Cais do Porto e do mais recente lançamento da Conrad, Manual de Sobrevivência à Vida Adulta. Batemos um papo descontraído com ela, apresentando um pouco de como foi sua jornada até aqui no mundo dos quadrinhos e um pouco do que vem por aí.


1) Olá, Brendda. Tudo bom? Conte um pouco sobre você antes de iniciarmos essa conversa.

Oi, tudo bem sim. Hoje fiz um bolinho de baunilha com cobertura de geleia de morango. Estou só esperando esfriar pra comer. Mas vamos lá… Meu nome é Brendda Maria. Sou cearense e vivo em Fortaleza. Faço quadrinhos já tem um tempo, mas acho que me apaixonei por histórias de cotidiano quando eu era adolescente. Lá por 2008/2009 eu conheci Nana e Paradise Kiss. A versão anime me levou ao mangá de Paradise Kiss e outros tantos quadrinhos. Hoje conto minhas histórias tentando mostrar como a cidade que eu vivo e as mulheres que represento, tem suas próprias verdades, inseguranças, vivências e tentam ser a melhor versão de si.

2) Como foi o processo de criação e publicação de “Cais do Porto”, o primeiro trabalho que você lançou pela Conrad?

Eu lancei, em 2016, um quadrinho chamado Manual de sobrevivência à vida adulta. Depois disso, passei dois anos lidando com crises de ansiedade e com depressão, então, em 2018, após minha primeira CCXP, eu decidi que ia escrever uma nova história. Eu já tinha ido a eventos em outros estados – em anos anteriores – mas essa era minha primeira estadia em São Paulo e eu estava de férias, então eu finalmente tinha tempo pra poder apreciar algumas coisas. Nessa viagem, por mais estranho que pareça, ouvi meu sotaque pela primeira vez e percebi várias semelhanças entre SP e Fortaleza. Aos poucos, fui percebendo o quanto Fortaleza era importante pra mim e como eu queria falar sobre a algo urbano neste novo quadrinho, pra desfazer a imagem de que só saem histórias sobre cangaço, daqui. Ainda me incomoda muito que o imaginário sobre o Nordeste seja embasado na figura do chão rachado, na generalização de sotaques, nos retirantes e em estereótipos que têm mais de 100 anos. Então lembrei de uma conversa que tive com uma amiga, andando da Praça da Gentilândia até um outro bar no Benfica, sobre como Fortaleza acolhia pessoas de diferentes origens e decidi que Cais do Porto seria sobre duas amigas conversando sobre a vida. No processo, eu fotografei prédios, pessoas, situações, de dentro da janela do ônibus que pegava pra ir pro trabalho. Também escrevi boa parte da história dentro do ônibus. Então não podia deixar de ter o ônibus como plano de fundo. Acho que o que eu mais gosto dela é como pude trazer um pouco de mim e das pessoas que amo, pra personalidade da Clara e da Gi.

3) Ano passado você foi vencedora do Prêmio HQ Mix na categoria desenhista, novo talento. Qual o impacto disso no seu trabalho e na sua vida pessoal?

Eu sei que vai parecer bobo, mas mesmo olhando o troféu na minha estantezinha, eu não consigo acreditar que foi eu quem ganhei. Sabe… A gente tem um meio tão cheio de pessoas maravilhosas, com estilos diferentes e traços incríveis, que tem uma vozinha lá dentro que fica falando que é sonho. Ao mesmo tempo, eu me sinto mega honrada. Foram pessoas do nosso meio que acreditaram que eu merecia… Fico feliz demais. Eu ainda sou a primeira mulher cearense a vencer um HqMIX. Quando penso nisso, penso que tem mais mulheres maravilhosas que podem ganhar a premiação. E fico listando o quanto eu queria que Luiza (ilustralu) e Débora fossem as próximas. Mas confesso que fico com medo sabe?! Minha expectativa de produzir novo, tão bom quanto o antigo é alta e muitas vezes me trava. Então tenho escrito as coisas de forma mais lenta, lido obras diferentes – tipo Um Teto Todo Seu – pra permitir viver um processo criativo mais meu, entendo que meu tempo de produção é extensão da minha rotina. E que o que eu escrevo tá mais ligado ao que eu sinto, do que eu imaginava quando comecei a contar histórias.

4) Você vai lançar mais uma HQ pela Conrad. Pode nos falar um pouco mais sobre ela?

Ah, eu amo o Manual de Sobrevivência a Vida Adulta. Ele foi a primeira obra que realmente coloquei um pouco do que sentia e experimentei fazer auto ficção de uma maneira engraçada. Eu tinha acabado de ser demitida de um emprego que eu adorava, estava começando a lidar com crises de ansiedade, tinha tantas inseguranças sobre o que seria a vida dali a seis meses, mas só conseguia pensar em como eu queria escrever quadrinhos. Ao terminar, parecia que eu tinha tirado um peso de cima de mim. Eu tava tão feliz. Tão feliz… Que parecia que a única pessoa que poderia me impedir de fazer o que eu queria era eu mesma. Foi meio isso que aconteceu, depois – rindo de nervoso. Minha cabeça começou a funcionar contra mim, as crises de ansiedade piorando, precisei começar a trabalhar como designer gráfica e fazer terapia. Aí cheguei ao fundo do poço. A Virgínia Woolf e o Mutarelli falam sobre como trabalhos não ligados ao que queremos pra nós são capazes de nos deixar tão exaustos que a gente não consegue exercer nosso potencial máximo criativo. Nos meus quadrinhos eu tento passar sempre mensagens positivas, pra dialogar principalmente comigo. O Manual e o Cais do Porto tem isso em comum. Não nascemos para viver na escuridão, mas abraçar nossa vulnerabilidade, nossos medos, nossas angústias, e falar sobre elas ajuda a gente a se perceber e sonhar com dias melhores.

5) Você está trabalhando em algum projeto atualmente? Podemos esperar por novidades?

Eu estou trabalhando em três projetos particulares pra esse ano. Não consigo precisar o que vai sair primeiro. Ano passado eu lancei as primeiras páginas de Apartamento 501, mas decidi tirar do ar e escrever a história com mais cautela. Ele é meu filho… Tem tanta coisa que quero falar nele… Relação entre amigos, identidade, inseguranças com as expectativas que a gente pode dar uma vida boa pra nossos pais e frustração de não conseguir fazer a vida dar certo antes dos 30… Eu tenho colocado cada nova história como um desafio de aprimorar minha narrativa. Até o final do ano eu quero trazer ela pra vocês, e pra Conrad, quem sabe?!

Entrevista realizada por: Michelle Henriques – Abril de 2021

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